O senhor Mago chamava-se Antão e vivia sozinho numa casinha que havia no meio do monte.
O senhor Mago tinha três ovelhas: Guiomar, Felisberta, e Chiquita. Cuidava muito bem delas e elas gostavam muito dele.
Numa tarde escura de Outono, o senhor Mago voltava do campo com as suas ovelhas, já fartas de pastar.
O caminho estava coberto de folhas secas.
O senhor Mago ia pisando as folhas com as suas socas e elas queixavam-se com gemidos surdos, como fazem as folhas quando as pisam.
De repente, ouviu uma folha dizer:
- Ei tu aí! não me pises que me magoas!
- Oh, céus! Uma folha que fala! -pensou.
Mas não estranhou muito, porque os Magos sabem muito bem que, às vezes, tudo é possível.
Olhou para o chão e viu aquela folha…
Era diferente, nunca tinha visto outra igual a ela. De certeza que viera de um país afastado, trazida pelo vento de outono. Apanhou-a e disse-lhe:
- Oh, desculpa! Não te preocupes, levar-te-ei para minha casa para te levar e pendurar na parede do meu quarto, porque és uma folha
muito bonita.
E assim fez. Chegou a casa, guardou as ovelhas no estábulo e foi até à fonte que havia ali perto.
Com cuidado para não a partir, lavou-a muito bem lavada e pensou na melhor maneira de a secar. Acendeu o lume e pendurou-a a secar. Depois levou-a para o seu quarto e pousou-a em cima da mesinha de cabeceira.
Antes de se deitar, pôs-se a pensar:
- Já estou velho e sinto-me só. Se um dia adoeço, não tenho quem cuide de mim. Esta folha que encontrei é muito formosa e, se calhar, podia transformá-la numa menina.
Meu dito, meu feito. Um pincel e tintas de muitas cores seriam as melhores ferramentas para realizar a sua magia.
Pintou-lhe uns longos cabelos louros, olhos azuis, um nariz empinado e uma boca de lábios rosados, umas orelhas redondas, uns braços com mãos suaves e dedos perfeitos, umas pernas com pés ligeiros como o vento…
Quando terminou, guardou a folha na caixinha dos desejos e pousou-a na pedra da janela. Se nessa noite as nuvens deixassem ver o brilho das estrelas, o seu desejo tornar-se-ia realidade.
Durante a noite, o senhor Mago acordou, olhou pela janela e viu no céu a lua cheia cercada de estrelas brilhantes como prata. Ficou muito contente e voltou a adormecer.
Levantou-se muito cedinho, ao raiar do dia. Esfregou os olhos, aproximou-se da janela e, ao levantar a tampa da caixinha dos desejos, ficou espantado… A folhinha desaparecera e, no seu lugar, estava uma menina adormecida, tão formosa como ele a imaginara.
Acordou-a com muita doçura.
A menina abriu os olhos, pestanejou e disse:
- Bom dia, papá!
O senhor Mago tremia de alegria: “papá! Uma filha! Já não estou só!”
Mas… que nome lhe ia dar?
- Já sei! Como Antão é um nome muito bonito, ela vai ser Anteia: Anteia, filha de Antão!
Toño Núñez, O senhor Mago e a folha